Com um olhar questionador à guerra e à intolerância religiosa, o clássico do cinema mudo "Nathan, o Sábio", de Manfred Noa, trazia consigo um alusivo slogan – “o filme da humanidade” – na época de seu lançamento, em dezembro de 1922, em Berlim. O sucesso de público interferiu pouco no destino que se impôs ao filme nos anos seguintes: o lançamento em Munique, cidade sede do Partido Nacional Socialista, foi censurado. O longa foi acusado de fazer “propaganda do judaísmo” e não voltou a ser exibido na Alemanha após a ascensão de Hitler ao poder. Por cerca de sete décadas, "Nathan, o Sábio" foi considerado perdido, até que uma cópia foi encontrada em Moscou em 1996. O longa é uma adaptação da peça homônima do poeta e dramaturgo alemão Gotthorld Ephraim Lessing, escrita no século 18 como resposta à censura que sofreu após publicar um ensaio do filósofo Samuel Reimarus crítico às religiões cristãs. Tem como pano de fundo a guerra entre cristãos, judeus e muçulmanos durante as Cruzadas na Jerusalém do século 12, onde o conflito é personificado em Nathan, o sábio judeu (Werner Krauss, de "O Gabinete do Dr. Caligari"); no cavaleiro templário e no Sultão Saladino, o vértice muçulmano do empasse – este por vezes representado sob a ótica do exotismo. Como na trama original, o filme termina em um apelo atemporal ao respeito entre fés distintas, mensagem pouco confortável na Alemanha pós-Primeira Guerra, o que o condenou ao esquecimento. A Restauração Oito décadas depois de seu lançamento, o Museu de Cinema de Munique redescobriu uma única cópia de "Nathan, o Sábio" na coleção do Gosfilmofond (órgão arquivístico russo), em Moscou, sob o título “A Tempestade de Jerusalém”. O órgão havia feito uma reprodução em preto e branco – que estava deteriorada, sem o título original, e com capítulos inseridos arbitrariamente – do negativo original em nitrato, que não existe mais. Em 1997, o Film Museum München adquiriu uma cópia do longa-metragem, que foi relegendada e corrigida conforme arquivos de censura alemães, e colorida de acordo com as convenções dos anos 1920.
Nathan der Weise
1922
Livre
123 min.
Ficção
Alemanha
P&B
Manfred Noa
Hans Kyser, baseado na peça homônima de Ephraim Lessing
Gustave Preiss, Hans Karl Gottschalk
Werner Krauss, Carl de Vogt, Fritz Greiner, Lia Eibenschütz, Bella Muzsnay, Margarete Kupfer, Rudolf Lettinger, Ernst Schrumpf, Ferdinand Martini, Max Schreck, Ernst Matray
Filmhaus Bavaria GmbH , Munique
Filmahaus Bavaria GmbH, München
Rabih Abou-Khalil
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